No dia 28 de junho, o mundo inteiro volta seus olhos para as cores do arco-íris que simbolizam a luta do orgulho LGBTQIAPN+. A data não é apenas um momento de celebração das conquistas obtidas até aqui, mas, sobretudo, um chamado à resistência, à memória e ao enfrentamento diário da opressão. Para o Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Norte (SEEB-RN), essa luta é inseparável das pautas da classe trabalhadora e do combate à exploração capitalista que ainda marginaliza e precariza as vidas LGBTQIAPN+.
28 de Junho: o dia em que a luta pintou as ruas de coragem
A escolha do 28 de junho como Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ remonta ao ano de 1969, quando frequentadores do bar Stonewall Inn, em Nova York, decidiram enfrentar a repressão policial. Naquele contexto, ser LGBTQIAPN+ era considerado crime em diversos estados norte-americanos, e bares que acolhiam esse público eram constantemente alvos de batidas violentas. Cansados dos abusos, um grupo de lésbicas, gays, travestis e pessoas trans reagiu — e a revolta se espalhou por dias.
Esse episódio, que ficou conhecido como Revolta de Stonewall, representa muito mais do que um marco na história do movimento LGBTQIAPN+. Foi a expressão da insatisfação e da coragem de pessoas que, mesmo diante do risco de morte, decidiram não aceitar mais o silenciamento. Foi também um grito coletivo por liberdade, dignidade e direitos — uma postura que ainda inspira milhares de trabalhadores LGBTQIAPN+ no Brasil e no mundo.
> Não é só celebração. É enfrentamento diário à violência e ao apagamentoHoje, passadas mais de cinco décadas desde aquele levante, ainda é necessário lembrar que o orgulho não pode ser reduzido a campanhas publicitárias de grandes corporações ou ações superficiais de empresas que, na prática, seguem explorando seus funcionários LGBTQIAPN+. No setor bancário, essa contradição é visível: enquanto bancos patrocinam eventos em datas simbólicas, nos bastidores continuam reproduzindo práticas discriminatórias, assédio moral, racismo institucional e exclusão das pautas de diversidade das mesas de negociação com os sindicatos.
Segundo o relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), o Brasil continua liderando o ranking de assassinatos de pessoas trans no mundo. Essa violência não é apenas física — ela também é social, institucional e econômica. Pessoas LGBTQIAPN+ são as mais afetadas pela informalidade, desemprego, falta de acesso a políticas públicas e sub-representação em cargos de liderança, inclusive no sistema financeiro.
"O orgulho não se expressa apenas em bandeiras coloridas. Ele se materializa quando um trabalhador LGBTQIAPN+ consegue ser respeitado no seu ambiente de trabalho, tem garantidos os seus direitos e não é vítima de assédio, discriminação ou invisibilidade", destaca André Henrique, diretor do SEEB-RN. “É preciso transformar o ambiente bancário em um espaço verdadeiramente inclusivo, com práticas concretas de valorização da diversidade.”
> Bancários LGBTQIAPN+: os desafios enfrentados no setor financeiroOs bancários LGBTQIAPN+ enfrentam desafios específicos no cotidiano profissional. Muitos ainda precisam esconder sua orientação sexual ou identidade de gênero para evitar represálias ou constrangimentos. O medo de ser demitido, sofrer assédio de colegas e gerentes, ou não ser promovido por conta da identidade de gênero ou orientação sexual é uma realidade que atravessa as agências e departamentos administrativos.
Além disso, a ausência de dados oficiais e a falta de políticas internas que contemplem a diversidade sexual e de gênero agravam ainda mais o cenário. Bancos públicos e privados ainda falham em garantir espaços seguros, canais de denúncia efetivos e programas reais de inclusão para trabalhadores LGBTQIAPN+.
Para mudar essa realidade, é necessário que os sindicatos, em conjunto com os trabalhadores, pressionem por avanços nas cláusulas dos acordos coletivos, pela implementação de comissões internas de diversidade e por políticas públicas que reconheçam a pluralidade da classe trabalhadora.
> Lutar contra a LGBTfobia é romper com a lógica do capitalDe acordo com análises da CSP-Conlutas, da qual o SEEB-RN é filiado, é preciso reconhecer que a LGBTfobia não é apenas uma questão individual de preconceito, mas parte estrutural do sistema capitalista. O capitalismo se sustenta na divisão da classe trabalhadora e no uso de diferentes formas de opressão — como o machismo, o racismo e a LGBTfobia — para fragilizar a organização coletiva e aumentar os lucros das empresas.
Assim, lutar contra a LGBTfobia é também lutar contra a lógica de exploração que transforma vidas em mercadorias. O pink money — a tentativa do mercado de lucrar com a comunidade LGBTQIAPN+ — é uma estratégia que tenta esvaziar o caráter revolucionário da luta por direitos. A verdadeira libertação passa por romper com esse sistema, construindo uma sociedade onde não haja espaço para nenhuma forma de opressão.
O movimento de organização das LGBTQIAPN+ preciso ir além das pautas institucionais e da busca por reconhecimento no sistema atual. O desafio é construir um projeto de sociedade verdadeiramente livre, onde a diversidade não seja tolerada como exceção, mas vivida plenamente como direito. Essa construção se dá na base, no chão das agências, nas assembleias sindicais, nos atos de rua e na solidariedade entre os oprimidos.
> Representatividade também é revoluçãoO Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Norte tem buscado incorporar a pauta LGBTQIAPN+ de forma ativa e contínua em suas ações. Além de campanhas de conscientização, o sindicato está ampliando a escuta e o acolhimento de trabalhadores que enfrentam situações de preconceito.
Outra frente importante é o fortalecimento da presença LGBTQIAPN+ dentro do próprio movimento sindical, garantindo representatividade e voz para todas as identidades de gênero e orientações sexuais. A luta por igualdade começa também dentro das nossas próprias estruturas.
"É preciso entender que a luta LGBTQIAPN+ não é uma pauta ‘de nicho’. Ela diz respeito à democracia dentro dos locais de trabalho, à dignidade humana e à liberdade de existir. O sindicato deve ser um instrumento dessa transformação", reforça Glauco Lago, diretor do SEEB-RN.
> Orgulho é ação coletiva por uma sociedade onde caibam todas as existênciasNeste mês do Orgulho LGBTQIAPN+, mais do que comemorar, é necessário reafirmar compromissos. A luta por respeito e dignidade das pessoas LGBTQIAPN+ é parte inseparável da luta por uma sociedade justa e igualitária. Não é possível construir uma democracia real sem enfrentar a LGBTfobia em todas as suas expressões — inclusive no ambiente de trabalho.
O orgulho LGBTQIAPN+ é, antes de tudo, um ato político. É a afirmação de vidas que resistem. E essa resistência só será completa quando toda a classe trabalhadora se unir em solidariedade, combatendo juntos o preconceito, a exploração e o sistema que os sustenta.
O SEEB-RN se coloca como parte ativa dessa luta e convida todos os bancários e bancárias a se engajarem nesse processo de construção de uma sociedade onde todos possam viver com liberdade, respeito e dignidade.